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TAE Cristina Florêncio

Coordenadoria do Ensino de Ciências do Nordeste - CECINE

UFPE





sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Newsletter no. 21/2011: Quando usar vídeo não dá certo.

Você já sabe. Para que o aluno aprenda, é necessário que haja um ponto em comum, uma “ponte” entre duas coisas: o conhecimento científico e o que o aluno já sabe. Caso não exista esse elo, qualquer tentativa de ensinar e de aprender resultará em fracasso. Essa ligação é chamada de transposição didática, assunto já falado aqui nesse blog na matéria O Leite e o Lattes.  

Ponte Maurício de Nassau - Recife
Isso porque, aprender é como fazer ligações, semelhantemente às que vocês explicam em Bioquímica e em Genética Mendeliana. Conforme Ausubel (Psicologia da Educação), para que haja uma assimilação significativa do novo conteúdo, é necessário que exista, na estrutura cognitiva, um ou mais conceitos aos quais o conceito novo irá se ligar. Nesse sentido, o professor é uma espécie de Maurício de Nassau da Educação: vive construindo pontes.  
  
Ora, um bom exemplo de ponte é um vídeo. Usando essa mídia, a gente nunca erra, certo? Depende. Lembra daquele filme que você assistiu na televisão e não entendeu absolutamente nada? Um vídeo também pode ser um “complicador”, se algumas precauções não forem tomadas. O Prof. Paulo Ricardo da Silva Rosa, do Departamento de Física da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul que o diga:

“Há alguns anos, dentro de um dos projetos de educação de indígenas no Mato Grosso do Sul, pesquisadores da UFMS tentaram, sem sucesso, o uso de um vídeo. Ao pesquisarem as razões do insucesso, descobriram que os índios não sabiam olhar televisão. Explico: para que tenhamos uma idéia geral (panorâmica ou global) do que se passa na tela da televisão, devemos focar o nosso olhar a uma certa distância da tela, mais ou menos 1 metro. Como os índios não tinham o hábito de olhar  televisão, eles não coordenavam o olhar de forma apropriada. Como resultado, eles apenas apreendiam detalhes da imagem, não a apreendendo na sua totalidade.

Ora, é claro que não estamos numa tribo indígena afastada de nossa realidade! Mas é importante atentar para o papel central da cultura quando utilizamos vídeos em sala de aula. Isso porque toda produção audiovisual pertence a determinada cultura; a realidade representada é a realidade partilhada por determinado grupo de pessoas, que produzem e consomem aquela obra; e essa realidade representada está codificada através de símbolos fornecidos por essa mesma cultura. Além do mais, nenhuma cultura é homogênea, e ainda tem as chamadas "tribos urbanas".  

Portanto, dependendo da turma, talvez seja melhor mesmo começar com um filme comercial e com estratégias mais simples, como naquelas apresentadas ao final da matéria Questão de Regência, e ir aprofundando até perguntas mais críticas de um documentário mais elaborado. Abaixo, uma sugestão de ficha de observação do Prof. Paulo Ricardo, encontrada em O uso dos recursos audiovisuais e o ensino de ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 17, n. 1, abr. 2000, p. 33-49. Disponível em <http://scholar.googleusercontent.com/scholar?q=cache:C3Wr03jDBzYJ:scholar.google.com/+O+uso+dos+recursos+audiovisuais+e+o+ensino+de+ci%C3%AAncias&hl=pt-BR&as_sdt=0,5>.> Acesso em 14/10/11.
Bom final de semana e bom descanso.
Cristina Florêncio
TAE do CCB - UFPE

Ficha de Observação de Vídeos
1.    Título do filme:
2.    Diretor:
3.    Produtor
4.    Evento: sobre que fenômeno se refere o filme?
5.    Questões básicas: quais as perguntas que os autores do filme pretendem responder?
6.    Conceitos abordados: quais são os principais conceitos abordados?
7.   Teorias e leis apresentadas: Que teorias e leis são apresentadas ou embasam as conclusões apresentadas?
8.   Hipóteses levantadas: que hipóteses são levantadas pelos autores para explicar o fenômeno apresentado e responder à questão básica?
9.   Dados apresentados: que dados o filme apresenta para sustentar as suas hipóteses?
10. Asserções de conhecimento: quais as conclusões a que chega o filme? Que respostas apresentam para a questão básica?
11. Asserções de valor: sob o ponto de vista ético-ideológico-moral, para que serve o conhecimento adquirido?

sábado, 1 de outubro de 2011

Newsletter no. 20/2011: Preconceito digital


Preconceito muito reiterado pela mídia é a ideia de que todo adulto não sabe ou tem dificuldade de utilizar as tecnologias digitais. Numa busca rápida na Internet, as imagens que encontramos de adultos com o computador são sempre estereotipadas, principalmente as de idosos.  

Há também “especialistas” afirmando uma competência quase genética da geração Y no domínio das novas tecnologias. Porém, entre um adolescente e um adulto analfabetos digitais, o primeiro sempre será mais habilidoso nessa apropriação? Essa teoria resistiria a uma análise mais rigorosa? E qual a repercussão disso no ensino-aprendizagem?

Ora, a “maior habilidade” do jovem está no seu maior contato com a Internet e assemelhados, enquanto que o adulto tem que dividir seu tempo, diariamente, com múltiplos problemas que disputam sua atenção, além de não ter nascido na era digital. Mas, aquela afirmação repetida incute a ideia de “superioridade” da geração Y na cabeça das pessoas, fazendo com que uma parte dos jovens não acredite, se choque, ridicularize e até se revolte quando um adulto demonstra conhecimento ou interesse nessas mídias. E nós, para “não contrariarmos a expectativa”, tendemos a aceitar essa discriminação.

Um exemplo pessoal? Sempre me interessei por soluções que melhorassem a qualidade do ensino. E a habilidade de desenvolver os próprios softwares facilita o trabalho do professor, dando-lhe maior independência na construção de seu material. Pensando assim, e já conhecendo alguma coisa de HTML, agendei aula demonstrativa gratuita sobre mais uma linguagem de programação num curso tradicional da cidade.

Chegou o dia. Laboratório cheio de maioria jovem: uns enviados pela empresa, gente obrigada pelos pais, outros interessados em vídeo games etc. Os minutos antecedentes à fala do instrutor nos deixavam tão egoisticamente ansiosos que nem olhávamos para trás.

De repente, alguém da geração Y ousou um reconhecimento dos seus pares. Sorriso largo à medida que sua visão panorâmica percorria, lentamente, o terreno atrás de si. Até que essa visão captou minha imagem em primeiro plano, na terceira fila de computadores. Seu semblante alterou-se antonimamente. Nenhum áudio incidental se ouviu, porém, em segundos, interpretei nessa cena os sinais de reprovação em seus olhos: minha presença era uma verdadeira profanação àquele solo sagrado, santuário da informática. 
Alguma dúvida?
Bom final de semana e bom descanso.
Cristina Florêncio
TAE do CCB - UFPE