Você já sabe. Para que o aluno aprenda, é necessário que haja um ponto em comum, uma “ponte” entre duas coisas: o conhecimento científico e o que o aluno já sabe. Caso não exista esse elo, qualquer tentativa de ensinar e de aprender resultará em fracasso. Essa ligação é chamada de transposição didática, assunto já falado aqui nesse blog na matéria O Leite e o Lattes.
Ponte Maurício de Nassau - Recife |
Ora, um bom exemplo de ponte é um vídeo. Usando essa mídia, a gente nunca erra, certo? Depende. Lembra daquele filme que você assistiu na televisão e não entendeu absolutamente nada? Um vídeo também pode ser um “complicador”, se algumas precauções não forem tomadas. O Prof. Paulo Ricardo da Silva Rosa, do Departamento de Física da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul que o diga:
“Há alguns anos, dentro de um dos projetos de educação de indígenas no Mato Grosso do Sul, pesquisadores da UFMS tentaram, sem sucesso, o uso de um vídeo. Ao pesquisarem as razões do insucesso, descobriram que os índios não sabiam olhar televisão. Explico: para que tenhamos uma idéia geral (panorâmica ou global) do que se passa na tela da televisão, devemos focar o nosso olhar a uma certa distância da tela, mais ou menos 1 metro. Como os índios não tinham o hábito de olhar televisão, eles não coordenavam o olhar de forma apropriada. Como resultado, eles apenas apreendiam detalhes da imagem, não a apreendendo na sua totalidade.”
Ora, é claro que não estamos numa tribo indígena afastada de nossa realidade! Mas é importante atentar para o papel central da cultura quando utilizamos vídeos em sala de aula. Isso porque toda produção audiovisual pertence a determinada cultura; a realidade representada é a realidade partilhada por determinado grupo de pessoas, que produzem e consomem aquela obra; e essa realidade representada está codificada através de símbolos fornecidos por essa mesma cultura. Além do mais, nenhuma cultura é homogênea, e ainda tem as chamadas "tribos urbanas".
Portanto, dependendo da turma, talvez seja melhor mesmo começar com um filme comercial e com estratégias mais simples, como naquelas apresentadas ao final da matéria Questão de Regência, e ir aprofundando até perguntas mais críticas de um documentário mais elaborado. Abaixo, uma sugestão de ficha de observação do Prof. Paulo Ricardo, encontrada em O uso dos recursos audiovisuais e o ensino de ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 17, n. 1, abr. 2000, p. 33-49. Disponível em <http://scholar.googleusercontent.com/scholar?q=cache:C3Wr03jDBzYJ:scholar.google.com/+O+uso+dos+recursos+audiovisuais+e+o+ensino+de+ci%C3%AAncias&hl=pt-BR&as_sdt=0,5>.> Acesso em 14/10/11.
Bom final de semana e bom descanso.
Cristina Florêncio
TAE do CCB - UFPE
Bom final de semana e bom descanso.
Cristina Florêncio
TAE do CCB - UFPE
Ficha de Observação de Vídeos
1. Título do filme:
2. Diretor:
3. Produtor
4. Evento: sobre que fenômeno se refere o filme?
5. Questões básicas: quais as perguntas que os autores do filme pretendem responder?
6. Conceitos abordados: quais são os principais conceitos abordados?
7. Teorias e leis apresentadas: Que teorias e leis são apresentadas ou embasam as conclusões apresentadas?
8. Hipóteses levantadas: que hipóteses são levantadas pelos autores para explicar o fenômeno apresentado e responder à questão básica?
9. Dados apresentados: que dados o filme apresenta para sustentar as suas hipóteses?
10. Asserções de conhecimento: quais as conclusões a que chega o filme? Que respostas apresentam para a questão básica?
11. Asserções de valor: sob o ponto de vista ético-ideológico-moral, para que serve o conhecimento adquirido?