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TAE Cristina Florêncio

Coordenadoria do Ensino de Ciências do Nordeste - CECINE

UFPE





quarta-feira, 12 de maio de 2010

Newsletter nº 09/2010: O Leite e o Lattes

Caro Professor,

Visualizemos a cena: primeira semana para a turma de calouros. Quase ninguém se conhece, mas todos têm um palpite sobre o conteúdo da disciplina e já viram na Internet que o professor tem um Lattes incrível! A essa altura, o Vestibular é jornal de ontem, e todo mundo quer mesmo é “botar a mão na massa” nem que seja só para sentir a consistência.

Vai-se o primeiro bimestre e, pouco a pouco, os olhares de curiosidade vão sendo substituídos por um silêncio mortal gritante. “Alguma pergunta?” Nada! Só aquela apatia pesando sobre os ombros.

Resultado da primeira avaliação. “Se vocês não estavam entendendo, por que não disseram quando eu perguntei?” Novamente o silêncio acostumado.

Já viu esse filme antes, professor? Típica situação de imaturidade do aluno acreditando no Vestibular como porta de entrada gratuita para o paraíso; mas também, provavelmente, um bom exemplo relacionado à transposição didática.

Mas, o que é mesmo transposição didática? Vamos pensar um pouco. O que ocorreria se fosse dado um prato de feijão com arroz e bife a um bebê recém-nascido? Ele não iria digerir a comida e morreria, certo? Se o bebê não pode ser amamentado, é necessário administrar a ele leite modificado para que seu organismo se adapte pouco a pouco aos alimentos.

Na prática pedagógica, é semelhante. A condição essencial ao conhecimento é que ele seja transformado para que se torne possível de ser ensinado. Ou seja, o conhecimento “bruto” produzido na academia não pode ser integrado às estruturas mentais do aluno. Faz-se necessário que ele seja “modificado” para que o “aparelho digestório cerebral” do aluno o assimile.

A sala de aula é o palco de encontro de dois saberes: o conhecimento acadêmico e o conhecimento trazido pelo aluno. Existe um distanciamento obrigatório entre esses dois saberes que não deve ser ignorado nem minimizado. O saber acadêmico precisa passar, obrigatoriamente, por uma “modificação” para que se torne possível de ser assimilado. Essa transformação é o que chamamos de transposição didática.

E como funciona a integração das estruturas mentais? Todos nós temos estruturas mentais construídas ao longo de nossa existência. Uma criança que cumpre todas as etapas escolares cria estruturas mentais que se ampliam constantemente, integrando o novo conhecimento, cada vez com mais facilidade. Ao passo que um adulto alfabetizado tardiamente é obrigado a “queimar etapas”, prejudicando o processo de construção dessas estruturas.

Ninguém chega à sala de aula como tábula rasa; aprender é integrar o novo ao já existente. Quanto mais uma pessoa aprende, mais facilidade ela terá em aprender; e quanto menos ela aprende, menos possibilidade ela terá de aprender.

Concluindo, professor, por mais embasado que seu aluno seja, se não houver uma transformação do conteúdo de sua disciplina de maneira a torna-la significativa para o aluno, existirá uma grande possibilidade de o ensino-aprendizagem não ocorrer; porque o aluno não poderá integrar o novo conhecimento às suas estruturas mentais já existentes.Ou seja: é imprescindível haver a transposição didática.

Por hoje, é só. Bom final de semana e bom descanso.
Cristina Florêncio
TAE do CCB - UFPE

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