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TAE Cristina Florêncio

Coordenadoria do Ensino de Ciências do Nordeste - CECINE

UFPE





sexta-feira, 1 de abril de 2011

Newsletter no. 09 /2011: Uma coisa é outra coisa

- “Não consigo entender o que esse professor fala!”
- “Você já deveria saber disso; é assunto do 2º Grau!”
Quem já não ouviu essas frases típicas de aluno e professor? Mas, afinal, quem tem razão? Os dois.

Explico. O professor tem razão porque o aluno chegou à universidade após cumprir dois pré-requisitos: ter o Ensino Médio completo e ter passado no Vestibular. O aluno tem razão, justamente, porque cumpriu os pré-requisitos necessários ao ingresso na Educação Superior, e agora parece que “emburreceu”, mesmo sendo proativo (faz a leitura prévia do conteúdo listado no plano de ensino fornecido pelo professor, pesquisa na Internet, estuda em casa etc).

E qual é a causa desse “conflito de interesses”? Uma delas pode ser a falta de sondagem e utilização pelo professor do conhecimento prévio trazido pelo aluno para sua disciplina. Vale salientar que conhecimento prévio não é a mesma coisa que pré-requisito - eles podem até serem considerados gêmeos, todavia, não são a mesma pessoa.

Explico novamente. Pré-requisito é mais uma questão legal, e depende da opinião de especialistas, que nem sempre chegam a um consenso, ou podem mudar de opinião posteriormente. Por exemplo, há um dispositivo legal que diz que, se um aluno comprovar conhecimento suficiente perante uma banca de especialistas, ele pode ser promovido à série seguinte ou até obter o certificado de Ensino Médio sem ter, necessariamente, frequentado os bancos escolares. Nesse caso, a Educação Básica completa deixaria de ser um pré-requisito para a Educação Superior.

Já o conhecimento prévio é ponto pacífico: não há como aprender determinado conteúdo sem uma “base”. Então, conhecimento prévio é tudo aquilo que o aluno já sabe (não necessariamente dentro da disciplina) e que pode ajudar na construção do novo conhecimento. Digo pode ajudar, porque há conhecimentos prévios que são equivocados e até atrapalham a aprendizagem.

Por exemplo, digamos que você se submetesse a uma seleção e alguém lhe pedisse que escrevesse uma história moralizante utilizando todos os substantivos abstratos abaixo. Quais deles você incluiria?
a) Deus;
b) assombração;
c) lobisomem;
d) fome;
e) inteligência.

Se você escolhesse fome e inteligência, parabéns! De outra forma, teríamos um caso de conhecimento prévio equivocado.

Explico. “Era uma vez” uma escola tentando “facilitar”, ensinando que substantivo abstrato era tudo o que não se pode pegar, lembra? Porém, sabe-se que o conceito apropriado desse substantivo é aquele ser que tem vida própria, real ou imaginária; não precisando de outro para existir. Sendo assim, Deus, assombração e lobisomem são substantivos concretos. Percebeu?

Mas, como levantar os conhecimentos prévios de uma turma? Perguntando? Resolvendo exercícios? Não. Até porque conhecer teoria musical não garante que alguém saiba tocar um instrumento. A melhor forma de fazer a sondagem é propor situações-problema (casos). Porque nelas, não basta apenas saber a teoria, mas sem a teoria é impossível achar a solução para o caso. Também o aluno teria de conhecer as várias teorias e identificar qual delas utilizar, de acordo com a situação-problema apresentada.

Portanto, parafraseando David Ausubel (1918-2008), célebre pesquisador da Psicologia da Educação e um dos primeiros a utilizar a expressão conhecimento prévio, o fator isolado mais importante influenciando a aprendizagem é aquilo que o aluno já sabe. É essencial descobrir em que nível o aluno está e, partindo daí, vir construindo o conhecimento juntamente com ele.
É isso.
Bom final de semana e bom descanso.
Cristina Florêncio
TAE do CCB - UFPE

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