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TAE Cristina Florêncio

Coordenadoria do Ensino de Ciências do Nordeste - CECINE

UFPE





sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Newsletter no. 26/2010: Redoma de Vidro

Certa vez, assisti a uma personalidade famosa contando de seu tempo de faculdade na área de saúde. O agora cirurgião-médico respeitado, falava de como seu professor universitário desenvolvera uma “técnica especial de previsão do futuro profissional de seus alunos. Partindo do princípio de que o nível de conhecimento era, basicamente, o mesmo, os que possuíam habilidades “mecânicas” dariam bons cirurgiões – e ele os convidava para seu próprio hospital; os que eram mais “teóricos” dariam ótimos pesquisadores; e os que gostavam de explicar e se faziam entender seriam excelentes professores.

Não julgando o mérito dessa classificação, uma coisa é certa: esse professor, conscientemente ou não, sabia que nem todos os seus alunos, por questão de habilidade ou de personalidade, gostariam de continuar na academia. Questão óbvia, mas tão óbvia que esquecemos dela. Todos os dias vemos na televisão gerentes de RH se queixando de que faltam profissionais qualificados para o mercado de trabalho. Mas, como pode isso acontecer se, todos os semestres, o Ensino Superior despeja milhares de formados de suas universidades?

Pois é. Formados, porém, não qualificados. Em recente pesquisa com alunos da graduação, ouvimos que a maior preocupação deles é o que vão fazer com o canudo que se aproxima com integralização do curso. Também é queixa que as nossas aulas, mesmo as práticas, são muito teóricas! Em outras palavras, elas têm pouca relação com o mercado de trabalho. Entre os alunos da pós-graduação, é comum ouvir que é bom fazer o mestrado ou doutorado enquanto “alguma coisa não aparece”; ou que “é melhor continuar os estudos, porque o mercado de trabalho vai exigir melhor escolarização”. Em resumo, eles atestam que encaramos o mundo lá fora como apenas uma ilusão de ótica; entendemos que, fora da redoma, tudo é um mero efeito colateral.

Porém, por que essa nossa recusa ao pragmatismo profissional? Simples. Geralmente, vemos o mundo à nossa imagem e semelhança: se é bom para nós, logo, deve ser bom para todos! A origem do nosso sistema educacional também ajuda (ou atrapalha!): a educação jesuítica do Brasil-Colônia considerava o trabalho puramente intelectual superior a todos os outros – trabalho “manual” era coisa de pobre ou de escravo.

Mas, e daí? E se tudo continuar como dantes no quartel de Abrantes? Ora, se a única perspectiva de emprego após a academia for ela própria, que venha a academia! Só não poderemos reclamar de que, no futuro, teremos mais profissionais preparados e menos vocacionados para ela.

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