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TAE Cristina Florêncio

Coordenadoria do Ensino de Ciências do Nordeste - CECINE

UFPE





sexta-feira, 23 de julho de 2010

Newsletter no. 21/2010: Para lembrar é preciso esquecer

O que acontece quando tentamos copiar um arquivo já existente numa pasta de computador? Aparece um aviso informando que ele já consta de nossos documentos, com a opção de substituirmos o antigo arquivo pelo novo. Digamos que não queiramos substituir e insistamos em copiar, que outra opção teremos? Nesse caso, é possível salvar os arquivos assemelhados, porém, atribuindo nomes diferentes.

Mas, por que o computador, simplesmente, não copia e salva tudo o que a gente quer? Bem, se ele não tivesse nenhuma “criticidade”, em breve encheria o hd com informações repetidas, e não haveria espaço para nada novo. Portanto, o computador precisa analisar cada documento e só copia para determinada pasta o que ainda não existe nela. É uma questão de lógica. 

Ora, se percebemos essa realidade numa máquina, por que não enxergamos isso em nós mesmos? Leopoldo de Meis, no capítulo Memória e aprendizado, explica por que ele chama o ensino tradicional de antifisiológico. Visando ao acúmulo de informação, essa abordagem não prevê a necessidade que temos de esquecer: não treina o aluno para a troca de noções ultrapassadas por conceitos novos.

A educação tradicional acredita que o cérebro, simplesmente, copia informações - daí a necessidade de uma “memória de elefante” para abarcar o conteúdo. Não percebe que o aprendizado ocorre quando há uma integração da nova informação ao esquema mental que já possuímos; é uma questão de “atualização dos arquivos”. Ou seja, é preciso esquecer para lembrar. Se não nos esquecemos periodicamente, nosso cérebro trava. Sabe aquela ampulhetinha que aparecia na tela, toda vez que o computador parava? Dizíamos que ele estava “pensando”. Na maioria das vezes que nos julgamos “esquecidos”, o nosso cérebro está “ocupado” ou “travado”, tentando processar as informações.

Mas, esquecer, exatamente, do quê? Exemplifiquemos. Quem tem mais de quarenta anos se lembra que bom mesmo era o leite em pó “daquela” marca – leite materno era coisa de “índio”; quintal limpinho era aquele cimentado com cimento tal; melhor ainda era substituir a manteiga pela margarina XY! Lembrou ou já se esqueceu? Recentemente, tivemos que esquecer o “abaixo o ovo de galinha!” como o grande vilão do colesterol. Nesse último caso, foi necessária uma verdadeira desfragmentação e limpeza completa de disco!

Porém, tudo isso tem seu lado bom. Serviu para lembrarmos que a Ciência não é tão onipotente como pensavam os positivistas do Século XIX: ela é apenas uma das formas de nos aproximarmos do conhecimento, e também é influenciada pelo poder econômico, sofre upgrades e “muda de ideia”.

Contudo, as lembranças não são eliminadas de vez; são “compactadas”. O autor explica que “Durante o esquecimento, há uma simplificação progressiva da informação armazenada, com perda de detalhes à medida que o tempo passa”. Para manter ativa uma informação preciosa, ele ensina:

O balanço entre o que se esqueceu e o que se grava na memória depende de diversos fatores [...], entre os quais se destacam a atenção que prestamos ao que está acontecendo, o nosso estado afetivo e (ou) emocional e a liberação de hormônios como a adrenalina, de nossas glândulas para a circulação sanguinea. Neste balanço, a capacidade de recordar aumenta se houver emoções fortes [grifo nosso] e a tendência normal é lembrar com mais facilidade de coisas agradáveis do que das desagradáveis. [...] As [informações] que foram gravadas com grande intensidade (emoções, hormônios etc) são armazenadas com maiores detalhes e evocadas mais facilmente.”

Pois é. Alguém aí falou em emoções e hormônios? Será que essas duas coisas têm alguma relação com a aprendizagem dos nossos alunos?
Bom final de semana e bom descanso.
Cristina Florêncio
TAE do CCB – UFPE
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Referência bibliográfica

De MEIS, Leopoldo. Memória e Aprendizagem IN Ciência e educação: o conflito humano-tecnológico. Rio de Janeiro: ed. do autor, 1998, 66-76.

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