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TAE Cristina Florêncio

Coordenadoria do Ensino de Ciências do Nordeste - CECINE

UFPE





sexta-feira, 18 de junho de 2010

Newsletter no. 15/2010 - Profa. Sônia Leite: estilo de ensinar

A nossa newsletter da semana é uma entrevista com a Profa. Sônia Leite*, docente da disciplina Histologia Geral em nosso Centro.

Tendo bastante experiência com turmas numerosas, a característica básica do seu estilo é a utilização de alegorias e metáforas, principalmente, para resolver situações de sala de aula próximas do conflito.

COMO VOCÊ COMEÇOU SUA VIDA DE DOCENTE?
Desde recém-formada, sendo professora auxiliar na UFPE. Depois, coordenei o curso de Medicina, os chamados para-médicos na época (Enfermagem, Fisiologia, Biomédicas, Ciências Biológicas, ...) e também lecionei Biologia para Educação Física. Sempre ensinei nos períodos iniciais dos cursos.

QUAL A CARACTERÍSTICA DOS ALUNOS EM GERAL?
Hoje em dia, eles estão muito “acelerados”, e o professor tem que acompanhar! Mas, não acredito que haja professor ou aluno difícil; o que existe é professor ou aluno auto-suficiente.

ENTÃO, QUAL SERIA O PAPEL DO PROFESSOR NOS DIAS DE HOJE?
O papel do professor é quebrar barreiras, porque a função dele é formar caráter. Acredito que nunca houve, verdadeiramente, atrito entre mim e o aluno; mas, em determinadas ocasiões, por exemplo, pode ter havido falhas de conteúdo ou faltas emocionais que interferiram no nosso comportamento.

QUANDO VOCÊ PERCEBE DESINTERESSE POR PARTE DO ALUNO? E COMO FAZ PARA RESOLVER OS CONFLITOS DA SALA DE AULA?
Ah, percebo que existe algo errado quando o aluno entra, assina a ata de freqüência e sai.
Então, é preciso quebrar as barreiras entre o professor e o aluno. Na minha prática, faço isso utilizando, constantemente, a figura do “Nós” ao invés de "Eu".

E COMO VOCÊ OPERACIONALIZA ISSO?
Um dia, uma monitora estava bastante agressiva na sala. Então, simplesmente, perguntei a ela:
-“Quantos rins nós temos?” A classe inteira parou e ninguém entendeu o porquê de uma pergunta tão óbvia. A moça respondeu:
- “Que pergunta mais besta, professora! É claro que nós temos dois!”
Então, eu disse:
- “Não, vocês estão enganados. Nós temos quatro rins!

Outro dia, uma aluna estava muito nervosa e o seu nervosismo influenciava a turma inteira. De repente, tive uma idéia e perguntei à aluna:
- “O que acontece se uma mosca cair num copo d’água?”
- “Vai contaminar a água toda, professora.”
- “E se cair uma abelha?”
- “Ah, a abelha produz mel; não vai contaminar a água!”
- “A mesma coisa é com as pessoas: uma atitude descompensada de um aluno pode influenciar negativamente a classe inteira e até o professor; e vice-versa. Já uma atitude acertada pode fazer o bem para todos da sala, inclusive para o professor; e vice-versa. Então, o que você prefere ser: abelha ou mosca?”

Essa história influenciou de tal forma a classe que, durante muito tempo, podia-se ouvir os alunos repetindo uns para os outros: “eu prefiro ser uma abelha”.


E QUAL FOI SEU OBJETIVO COM ESSAS PERGUNTAS?
Fazer com que a classe parasse para refletir sobre a necessidade de pensar coletivamente, porque isso é essencial para que as coisas aconteçam.

E DE ONDE VEM ESSA SUA HABILIDADE PARA LIDAR COM TURMAS NUMEROSAS?
Creio que é uma habilidade natural, surgida do convívio numa família grande. Tudo era muito difícil, porque éramos doze irmãos e tivemos que aprender as regras básicas do relacionamento entre as pessoas, como por exemplo, chegar a tempo para o jantar.

VOCÊ ESCOLHEU SER PROFESSORA?
Não. Comecei a ensinar, porque precisava do dinheiro; mas, apaixonei-me pela profissão. Gosto de estar em contato com as pessoas. Posso repetir o conteúdo da disciplina, mas não consigo repetir a aula.

QUAL O CONCEITO QUE VOCÊ TEM DE SI MESMA COMO PROFESSORA?
A educação que eu recebi na minha família foi bastante rígida. Mas, o fato de ter que conviver com um grande número de pessoas me deu sensibilidade para quebrar barreiras. Considero-me excelente professora, porque possuo essa sensibilidade.

E NO USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS, VOCÊ ACREDITA?
Acredito, mas esses recursos não são para enganar o aluno! Um vídeo que recomendo é o filme Avatar, porque mostra o que as pessoas estão fazendo com o meio ambiente. Depois que o aluno conhece Histologia, ele passa a entender a relação do filme com o sistema endócrino e com o tecido nervoso. Ultimamente, recebi um power point sobre esse filme, e pretendo utiliza-lo como fechamento do semestre (a Profa. Sônia disponibilizou o referido arquivo no blog http://www.assuntoseducacionais.blogspot.com/ ).

QUAIS SERIAM SUAS CONSIDERAÇÕES FINAIS, PROFESSORA?
Acredito que a função do professor é formar caráteres e ter sensibilidade para quebrar barreiras. Professor e aluno precisam escutar. A tecnologia é importante, mas é preciso dosar a tecnologia com a presença, porque nada substitui a presença.

(* A Profa. Dra. Sônia Pereira Leite é do Departamento de Histologia e Embriologia e docente da disciplina Histologia Geral para os cursos de Enfermagem e Fisioterapia no Centro de Ciências Biológicas da UFPE, com doutorado em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos. Pesquisadora da UFPE e  do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico com experiência na área de Morfologia com ênfase em Histologia.)

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